Descrição de chapéu Rio de Janeiro

Operação da polícia no Complexo da Maré deixa oito mortos no Rio

Moradores afirmam que agentes atiraram do helicóptero; corporação diz que traficantes reagiram à ação e foram atingidos

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Rio de Janeiro e São Paulo

A Polícia Civil matou oito pessoas durante uma operação na manhã desta segunda-feira (6) no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. Segundo a Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), oito traficantes reagiram à ação e foram atingidos pelos agentes.

De acordo com a corporação, o objetivo da operação foi capturar o traficante foragido Thomas Jayson Gomes Vieira, o 3N, que atuava no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.

Segundo a Core, 3N estaria se preparando para promover uma "guerra" pelo domínio do Salgueiro, de onde teria sido expulso após matar diversos rivais. 

Durante a operação realizada no Conjunto Esperança, na Maré, os agentes apreenderam 7 fuzis, 3 pistolas, carregadores com munição, 14 granadas, cerca de R$ 35 mil reais e drogas, segundo balanço divulgado pela Polícia Civil do estado do Rio.

A polícia informou ainda que, além dos oito mortos, outros três suspeitos foram conduzidos à delegacia, entre os quais um segurança de 3N e a mulher dele. 

Nas redes sociais, moradores denunciaram o uso de helicópteros para atirar em direção à comunidade. De acordo com os relatos, também teriam sido utilizados três caveirões, carros blindados da corporação.

Em alguns vídeos, é possível ver os helicópteros sobrevoando a favela durante a operação, ao mesmo tempo em que são ouvidos barulhos de tiros. 

De acordo com informações do coletivo Maré Vive, uma menina de 15 anos foi baleada e outra criança também pode ter sido atingida. Segundo o grupo, postos de saúde e escolas fecharam. 

Em uma foto, crianças com uniforme escolar são flagradas correndo.

Crianças fogem de tiroteio no Complexo da Maré, na zona norte do Rio
Crianças fogem de tiroteio no Complexo da Maré, na zona norte do Rio - Maré Vive

A reportagem perguntou à assessoria da Polícia Civil por que e com que função os helicópteros foram utilizados, mas até a publicação deste texto, não houve resposta.

No fim de semana, o governador Wilson Witzel (PSC) acompanhou uma ação da Polícia Civil em um helicóptero que sobrevoava uma favela na cidade de Angra dos Reis, no litoral do Rio. "Vamos botar fim na bandidagem", disse em vídeo divulgado no Twitter.

Segundo a Core, tratou-se de uma “operação para reconhecimento de áreas atingidas pela criminalidade em Angra dos Reis”. “A medida visa estruturar ações de impacto na segurança pública da região.”

O governador já defendeu o “abate de criminosos” portando fuzis, independentemente das circunstâncias, inclusive com drones e atiradores de elite disparando de helicópteros —o que é considerado ilegal por parte dos juristas e especialistas em segurança.

Só neste ano houve ao menos outras três operações policiais em favelas cariocas com o uso de helicópteros e relatos de moradores sobre rasantes e tiros vindos das aeronaves. 

O uso de helicópteros para disparar rajadas vai contra uma normativa publicada em outubro pela extinta Secretaria de Segurança Publica do RJ, que determinava diretrizes para a atuação das polícias fluminenses durante operações.

A regra não impede que agentes disparem de helicópteros, mas estabelece que os tiros só sejam dados quando forem estritamente necessários para proteger outras vidas. Também ressalta que deve ser feito um disparo de cada vez, ficando proibido dar rajadas, e que essas investidas devem ser evitadas em locais populosos.

Foi uma ordem da Justiça que obrigou o estado, então sob intervenção federal na segurança, a apresentar um plano para reduzir os riscos e danos aos direitos humanos durante operações. 

A decisão veio após uma ação em que foram feitos disparos de helicóptero da polícia no Complexo da Maré, em junho de 2018. Ela acabou com sete mortos, sendo uma das vítimas o estudante Marcos Vinícius da Silva, 14, atingido por um tiro de fuzil vestindo o uniforme da escola

De janeiro a março de 2019, 434 pessoas morreram por intervenção de agente do Estado, segundo o Instituto de Segurança Pública. Nos três primeiros meses do ano passado, foram 368 mortes.

Os números foram incrementados nos últimos dias.

Além da ação desta segunda na Maré, na última sexta-feira (3), uma operação da Polícia Militar deixou quatro mortos no morro do Borel, comunidade que fica na Tijuca, zona norte do Rio. 

Segundo os agentes, houve confronto e quatro criminosos atingidos chegaram a ser socorridos no hospital do Andaraí, mas não resistiram. 

No início de fevereiro, a PM matou 15 pessoas durante operação no morro do Fallet, no centro da cidade. A corporação afirmou que todos foram mortos em confronto, mas moradores da favela denunciaram a prática de tortura e disseram que os policiais atiraram mesmo após a rendição dos suspeitos. 

A ação que reuniu o Bope (Batalhão de Operações Especiais) e o Batalhão de Choque foi a operação policial com maior número de vítimas nos últimos 12 anos. 

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